O Fim do começo e a Violência em Valencia

Quarta-feira comentei que a Plaza Catalunya estava se esvaziando. Hoje, nesse sentido continua. Ontem, quinta-feira, não houve Assembleia Geral. Foi o primeiro dia sem os debates que a decisão não foi em função de problemas climáticos. Em Madrid, os manifestantes da Puerta del Sol desmoitarão acampamento no domingo, 12. Aqui em Barcelona, os indignados do 15M procuram uma mesma saída. Como bem definiu o El Periódico, jornal de grande circulação na Catalunha, “os bloqueios do regime de assembleias eternizam uma decisão sobre como acabar com a acampada de Barcelona sem que a indignação perca apoio”. Os indignados, há mais de três semanas acampados no centro da cidade, dão claros e naturais sinais de cansaço. Além disso, há problemas de segurança durante a noite, quando muitos desabrigados e indigentes chegam à praça.

De fato, persistir ou não acampados, depois de tanto tempo e com algumas grandes conquistas, a principal delas na moral adquirida, a decisão não é tão simples. Para mim, a saída da praça é uma questão de dias, provavelmente sendo concretizada, ao máximo, no domingo. Mas, por outro lado, não me parece ser esse o começo do fim, mas sim o fim do começo. Os manifestantes já tem ações fortes programadas, como o acampamento em frente ao Parlamento Catalão no próximo dia 14, quando o governo da província assinará os cortes no orçamento (principalmente na área de Saúde e Educação). Mais do que isso, como disse no último post, agora os espanhóis sabem que há uma forma de serem vistos. Vale lembrar, também, que o país vive sua pior crise dos últimos anos, com desemprego além dos 20% (quase 45% entre jovens) e a população esta extremamente descontenta com seus governantes. Ótima análise fez Cristóvão Buarque, Senador brasileiro, curiosamente para o El País. “O pessimismo europeu proveem da impossibilidade de ir além do que já foi feito. O grande desafio é idealizar alternativas viáveis para uma nova época. (…) O desafio consiste em imaginar uma nova civilização, que vá além da Industrial, além do PIB, em posse de um novo conceito de riqueza”. Os espanhóis, assim como todos os europeus, sabem o que não querem. Rejeitam, determinadamente, o modelo político vigente. No entanto, tem dificuldades, naturais, de criar um novo. Como emblematicamente diria o Coronel Nascimento, mudar o sistema é foda. Essas mudanças levarão tempo, muito mais do que três semanas. Nestas, eles já provaram que algo novo é possível. E a internet esta a serviço.

Violência em Valencia

Quarta-feira, Felipe Puig, Conselheiro do Ministério do Interior Catalão, defendeu no Parlamento da província a ação violenta do dia 27 de maio (clique aqui para mais informações). Ele alegou, sem provas, apesar de dizer tê-las, que os policiais barceloneses agiram em legitima defesa, frente aos “atentados por parte dos manifestantes”. Eis que, ontem, quinta-feira, um dia depois, policiais e manifestantes novamente entraram em confronto na cidade de Valencia. Ao menos dezoito pessoas ficaram feridas, entre eles oito policiais. De acordo com a polícia, os manifestantes “jogaram garrafas de água e até tesouras”, o que provocou a reação.

Ps. Começaram ontem, na Turquia, protestos por reformas políticas no país. Como usual, foram organizados pelas redes sociais. Alguma dúvida que eles se espalharam por todo o mundo?

Por fim, um vídeo de Eduardo Galeano, uruguaio jornalista e autor de livros, entre eles “As veias abertas da América Latina”, gravado na Plaza Catalunya.

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Uma resposta para O Fim do começo e a Violência em Valencia

  1. Laura Oller disse:

    João!! Lembrei mto de vc!

    Estou em Atenas e por aqui a praça ferve!!!
    Impressionante, sempre lotada, gente de todo tipo e idade, assembléias cheias e organizadas, músicas, comitês… Não é a toa que a democracia é originalmente grega, e eles sabem muito bem disso!!

    Tudo isso combinado com seu blog sobre as manifestações na Espanha faz pensar como a Europa está em erupção! Como a crise não passou, como democracia talvez não seja uma conquista nem no ocidente e como ainda existe o poder de se indignar e de ser muitos!

    Que sorte a gnt tem de poder viver tudo isso!

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